domingo, 27 de janeiro de 2013

BRASIL DE LUTO  por SANTA MARIA/RS.

OS JOVENS NÃO DEVERIAM MORRER...
Texto de Edmilson Borret


E aí, a gente para pra pensar nesse papo de morrer jovem. Morrer jovem é algo muito, mas muito esquisito mesmo. É de uma ironia sem a menor graça. De um espanto em que não cabem argumentos. Morrer jovem é muito estranho. Não tem como não lembrar do clássico "Love in the afternoon" do Legião Urbana que diz: "É tão estranho. Os bons morrem jovens..."


Morrer jovem é como interromper uma música, é como cortar um filme ao meio, rasgar as páginas de um livro sem lhe saber o final. É arrancar de cena um ator em seu momento mais fantástico, em seu grande ato, sua cena mais brilhante. Morrer jovem é injusto. Injusto como as leis da natureza. Injusto com o que parte. Mas muito mais injusto com os que ficam.

Porque quem morre jovem fica sem ter o que dizer. Vai calado, num silêncio frustrante. Não tem quase história para contar, não tem quase passado... e não terá futuro. Quem morre jovem, não importa como tenha morrido, tem morte súbita: é quase um “à queima-roupa” sem possibilidade de defesa. Porque é “de repente” o morrer jovem. Fica aquela sensação de poder ter feito mais. Poder ter dito mais. Aquela frustração de quem não voltou para o segundo tempo do jogo.

Morrer jovem é fazer uma contabilização sempre negativa: é descontar, é subtrair somente. É contar os abraços que deixou de abraçar, os beijos que deixou de beijar, as obras que deixou de realizar, os sonhos que deixou de sonhar, a formatura que não aconteceu, o carro que queria e não veio, a namorada que amava demais da conta e que não se deu conta de que você se foi. Morrer jovem é triste porque a velhice é o estado que se espera de todos e a juventude deveria ser apenas uma ponte para ela. A juventude deveria ser um “acontecendo”, um “sendo” e a gente sempre se achando bem, se sentindo forte, audaz, capaz, feliz. Quando se morre jovem, se desdiz tudo o que tinha de ser. É a contramão da história. O retorno mais cedo de uma viagem que nem sequer chegou a existir... as malas nem foram feitas.

Morrer jovem é não ter tido tempo. Não ter conhecido a beleza, não ter dado satisfação a ninguém, não ter explicado, não ter dado “até logo”, ter ido direto ao “adeus”. Caraca, maluco! Morrer jovem é de uma falta de educação tremenda! É nem pedir licença para levantar e sair. Morrer jovem é não comparecer ao compromisso, é marcar a reunião e não ir. É fazer todo mundo de bobo. Dar um drible na galera, nos parentes, no cachorro. Morrer jovem é faltar a tudo que estava na agenda... Morrer jovem é uma (...) deslealdade! Morrer jovem é uma traição da vida em conluio com a morte. É uma armação para desesperar mães...

Morrer jovem é um deboche sem tamanho!

(Edmilson Borret - 
poeta,escritor,professor na rede municipal de educação do município do Rio de Janeiro)

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